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By Ferramentas Blog

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Carla Villar e as canções de Toninho Horta

Carla Villar lança disco 'Pedra da Lua – Carla Villar canta Toninho Horta'

. Música - 13/10/2008
Ailton Magioli - EM Cultura



À exceção de Nana Caymmi, que se tornou praticamente co-autora do clássico ao gravar Beijo partido em 1975 – coincidentemente no mesmo ano em que Milton Nascimento registrou a canção, com a participação do autor –, poucas intérpretes tiveram coragem de desvendar o cancioneiro de Toninho Horta com a profundidade que ele requer.




Foto: Marcílio Gazzinelli ->


Às vésperas de completar 60 anos (que serão comemorados em dezembro), o criador de harmonias “complicadas” ganha releitura digna da importância de sua obra com o lançamento, segunda-feira à noite, do disco Pedra da Lua – Carla Villar canta Toninho Horta. Nesse álbum solo, a belo-horizontina exibe o timbre agradável e o bom-gosto que sempre chamaram atenção do público.


Com o amadurecimento, Carla Villar começa a se firmar como uma das melhores intérpretes em atividade na capital. Não por acaso, acaba de ser premiada no Festival de Música de Belo Horizonte. “Além dos estudos, o fato de dar aulas de canto contribui para a gente estar sempre exercitando a voz”, explica ela, salientando que a masterização do disco, a cargo do guitarrista e engenheiro de som César Santos, foi propositalmente puxada para os anos 1970 – a sonoridade, mais quente, lembra a do vinil.


CONVIDADO

Com direito à participação de Toninho, que assina três arranjos do disco, e acompanhada de banda, Carla vai apresentar o repertório integral de Pedra da Lua, acrescido de Manoel, o Audaz, o maior sucesso do guitarrista. A Rede Minas de Televisão e a Inconfidência FM vão registrar tudo para a exibição de futuros especiais.

O show integra o Projeto Música Independente, da Fundação Clóvis Salgado. Gustavo Figueiredo (teclado), Kiko Mitre (baixo), César Santos (guitarra), Tattá Spalla (violão) e André “Limão” Queiroz (bateria) formam a banda da cantora. No palco do Ceschiatti, Carla Villar também vai receber o instrumentista Ces-4 e o cantor baiano Renato Rivas.


“A música de Toninho é difícil de tocar, de cantar e, às vezes, até de ser ouvida”, afirma ela. Por isso, tem de ser bem-feita, para não cair no risco de se tornar boba, observa. “Tanto as harmonias como as melodias são muito difíceis, mas infinitamente geniais”, acrescenta. Céu de Brasília, Durango Kid, Viver de amor, Aqui-Ó, Pecém e Estrela do meu céu são algumas das canções do show.




Com a primeira tiragem esgotada, Pedra da lua aguarda patrocínio para nova edição e para a turnê de lançamento. O projeto de captação já foi aprovado na Lei de Incentivo à Cultura.










CARLA VILLAR & BANDA

Teatro João Ceschiatti, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Segunda-feira, às 19h. R$ 5 (inteira) e R$ 2,50 (meia).






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Música no podcast: 'Pedra da Lua', de Toninho Horta e Cacaso, c/ Carla Villar. Gravação no CD 'Pedra da Lua - Carla Villar canta Toninho Horta', de Carla Villar. 2007, Independente.
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Mineiridades - Frango com quiabo e angu é um bom motivo para a gula

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Domingo 05 de outubro de 2008

Gustavo Werneck - Estado de Minas



Tiradentes - Difícil resistir às tentações da culinária mineira, um patrimônio recheado de história, temperado pela mais pura tradição e admirado por gente do Brasil inteiro. Quem visita as cidades coloniais, entre elas Tiradentes, no Campo das Vertentes, a 210 quilômetros de Belo Horizonte, tem de dispensar algumas horas para provar as delícias da terra, de preferência preparadas na boa panela de pedra, como mandam as sábias cozinheiras. Um dos pratos mais pedidos, no almoço ou no jantar, é o frango com quiabo, acompanhado de angu mole e arroz soltinho, quarteto fumegante e especial para o paladar. Uma iguaria das Gerais.

Foto: Beto Novaes/EM/D.A Press

Em toda a Estrada Real, restaurantes simples e sofisticados mantêm a iguaria no cardápio. Em algumas regiões de mineração, o prato recebe o curioso nome de “xi com angu”. Contam que, lá pelos idos do século 19, antes de sair à noite para beber e jogar, os homens inventavam uma desculpa cheia de imaginação para ludibriar as mulheres. A conversa era: “O Chico nos convidou para comer um frango com quiabo e angu”. Daí, o “xi com angu”. Muitas horas depois, no raiar do dia, eles chegavam em casa e se desculpavam, na maior cara-de-pau. Em vez de frango, o tal Chico cozinhava um galo com quiabo e angu – a mentira colava e as mulheres engoliam, pois, como se sabe, essa ave demora horas para ficar pronta.



Na turística Tiradentes, na Trilha dos Inconfidentes, a cozinheira Elizabeth Batista Teixeira, a dona Beth, de 50 anos, sabe todos os segredos da gastronomia das Gerais. Criada numa família grande de 10 irmãos, ela via, ainda criança, a mãe Zélia pegar o frango no galinheiro, colher os quiabos bem frescos e depois dar início ao processo. Para tornar o serviço completo, agradar aos olhos e dar água na boca, todas as partes eram aproveitadas: das mais nobres (peito e coxa), às de pouca carne (asa, pescoço e pés).

Declarando-se “mineira até mandar parar”, Beth lembra que, na sua casa, as carnes de porco e de galinha eram as mais comuns, pois criavam-se os animais no quintal. Carne de boi, só no Natal”, conta. É dessa época que ela preserva um jeito muito próprio de fazer a comida. Para dar mais sabor ao quiabo, ela o refoga com pimentão cortado em cubinhos, deixando que dourem até secar. Com total sapiência, vai usando técnica e arte para evitar que o quiabo babe – uma delas é usar pouco óleo e dourar bem. “Enquanto cozinho o frango, preparo o quiabo. No fim dá tudo certo”, diz a cozinheira, que dirige, ao lado da filha, Marcela Cristina, de 26, o restaurante Sabor de Minas, no Largo das Forras, no Centro Histórico. Essa área central de Tiradentes é um verdadeiro paraíso para os admiradores dos genuínos petiscos mineiros e também do artesanato fino e dos doces de lamber os beiços.

Com os novos tempos, principalmente com a presença maciça de turistas paulistas, interessados em descobrir as belezas de Minas, muitos restaurantes da região passaram a usar só pedaços mais carnudos, deixando de lado o trio pé, pescoço e asa. Mas se o cliente fizer questão do frango completo, deve dar uma passada antes no restaurante e encomendar.

Fogo do chão

A história da culinária mineira, uma das mais originais do país, vem de longa data. E, até chegar ao frango com quiabo, cumpriu uma trajetória de resistência, testes e mudanças. Tudo começou com os primeiros desbravadores do território que, para não morrer de fome, aprenderam o necessário com os índios. Na busca por ouro e diamantes, e na falta completa de panelas, fogão e mobiliário, só lhes restava observar o que os povos indígenas comiam e seguir seus hábitos. Os alimentos, portanto, eram feitos à base de mandioca e milho.

De acordo com os pesquisadores, os alimentos eram assados, sem sal, no fogo do chão, que consistia num buraco onde ficavam as brasas. Sobre as labaredas, as vasilhas de barro, à moda indígena, eram penduradas em árvores com cipós. Tudo era comido com as mãos, na forma de “capitão”, com as pessoas sentadas no chão. Também era muito comum pôr os alimentos em espetos.

Com a confirmação de que a capitania era rica em ouro e diamantes, chegaram da África os primeiros negros, incluindo mulheres, para trabalhar na mineração. Novos modos de cozinhar se juntaram à culinária local, surgindo os pratos afro-indígenas. Muitos cativos trouxeram sementes de quiabo e, depois de colhê-los, passaram a comê-los misturados ao angu ou com a carne dos animais que caçavam. A banana-da-terra também era muito usada naqueles tempos e todos os doces eram feitos com o mel colhido nas árvores. Quando chegaram as galinhas e porcos trazidos pelos portugueses, o cardápio ficou mais variado. E apetitoso, como a mistura de frango com quiabo, perfeita tradução da hospitalidade mineira.

Mineiridades - Qualidade e sabor fazem a cachaça de Salinas ganhar fama internacional

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Domingo, 28 setembro 2008

Mineiridades - Pedra-sabão vira arte nas mãos de artesãos mineiros

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Domingo, 21 setembro 2008


Paulo Henrique Lobato - Estado de Minas




Mineral que fez de Aleijadinho, o maior expoente do barroco brasileiro, continua sendo fonte de criação de artistas, anônimos ou não, dos rincões de Minas Gerais

Ouro Preto - A pedra-sabão, que fez de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730/1814), o maior expoente do barroco brasileiro, também deu a Santa Rita de Ouro Preto, distrito da cidade-berço da Inconfidência Mineira, a 130 quilômetros de Belo Horizonte, o título de capital nacional da matéria-prima, cientificamente batizada de esteatita. Quase três séculos depois, as jazidas da região são a principal fonte de renda de boa parte dos moradores, que encantam turistas, principalmente estrangeiros, com as belas esculturas que retratam o rosto de Jesus e de vários santos, mas também figuras abstratas e objetos usados no dia-a-dia: jarros, panelas, fôrmas para pizza, porta-copos etc.

“A pedra-sabão é o coração de Santa Rita de Ouro Preto”, resume Reginaldo Rosa Guimarães, de 45 anos, que aprendeu o ofício, como a maioria dos artesãos da comunidade, ainda criança. “Nunca mexi com outra coisa. Assim, criei meus dois filhos.” Na oficina instalada atrás de sua casa, consegue o ganha-pão da família com a ajuda da mulher, dona Francisca Martins, de 44. Ela recorda que o primeiro contato com a matéria-prima ocorreu quando menina-moça. Hoje, experiente, leva pouco tempo para lapidar a rocha bruta. Em minutos, as ágeis mãos fazem esculturas que homenageiam São Francisco e outros discípulos de Deus. Mas seu maior prazer é dar forma a miniaturas do Cristo Redentor.

E, não por acaso, o Cristo original, imponente no alto do Corcovado, no Rio de Janeiro, também abençoa o distrito da cidade histórica, pois a imensa estátua, eleita uma das novas maravilhas do mundo, em 2007, é revestida com pastilhas de pedra-sabão de Santa Rita de Ouro Preto. “Na década de 1990, quando pedaços dele começaram a cair, foi feita a restauração. E as pastilhas de pedra-sabão foram buscadas em Santa Rita”, explica Flávio Orsini Nunes de Lima, proprietário da OPPS Mineração, empresa que participou da obra e que exporta peças produzidas no lugarejo para vários países da Europa e para os Estados Unidos.


Algumas obras enviadas ao mercado externo foram assinadas por Rulilber Moreira Ferreira, de 37, que aprendeu a arte com o pai. “Ele, falecido, é minha referência. Muitos de meus trabalhos foram parar na Itália, na França, em Portugal…”, conta, orgulhoso, o artesão. Em 2006, o rapaz ganhou o primeiro lugar no concurso da Festa da Pedra-Sabão, realizada no próprio distrito. De lá para cá, fez muitas peças. Várias são abstratas, como as que ele batizou de Laços da Amizade. Expostas na entrada de sua casa, são um atrativo para que os turistas conheçam seu atelier.


O pequeno cômodo não guarda apenas obras inspiradas em sua imaginação. Também há imagens de santos. Aliás, a religiosidade é marca registrada do lugarejo que, até 1938, era conhecido como Santa Rita de Cássia. O nome mudou, mas a fé continua forte no distrito fundado no início do século 18 por bandeirantes que chegaram à região percorrendo o leito do Ribeirão Falcão atrás de jazidas de ouro. Hoje, o distrito é o segundo mais populoso de Ouro Preto, com cerca de 5 mil moradores. Um deles é o extrovertido José Campos, de 55, que ganha por mês cerca de R$ 600 com as peças que produz.

Ele também aprendeu a manusear a rocha bruta com o pai. “Ele me ensinou e eu ensinei aos meus filhos. Criei todos os cinco com o dinheiro que a pedra-sabão me deu. Por diversas vezes, virei noite trabalhando”, recorda, enquanto admira, da janela de sua pequena casa, as peças que levam sua assinatura. Vizinho de seu Zé Campos, como os amigos o chamam, o artesão Cláudio Cunha, de 41, mais conhecido como Claudinho Pedra-Sabão, recebe muitos compradores de São Paulo e do estrangeiro. Os artesãos mais antigos explicam que a pedra-sabão pode ser macia – por isso também é conhecida por pedra-talco – ou mais resistente. Aleijadinho usou, principalmente, a segunda. Foi com ela que ele criou, por exemplo, os famosos profetas de Congonhas. A pedra-sabão é uma rocha compacta, composta de talco (também chamado de esteatite) e outros minerais, como magnezita, tremolita e quartzo. Não é muito dura, por causa da grande quantidade de talco. É encontrada em cores que vão do cinza ao verde. Dá a sensação de ser oleosa ou saponácea, derivando-se daí o nome de pedra-sabão. Os maiores depósito estão em Minas Gerais.





SANTA RITA DE OURO PRETO
Distrito de Ouro Preto

População:
Cerca de 5 mil moradores

Fundação: Distrito criado em 1938
Distância de BH: 130 quilômetros
Distância de Ouro Preto: 30 quilômetros







1 - Grandes blocos da pedra bruta chegam às casas dos moradores e precisam ser lavrados. O artesão Jesus Gerônimo Guimarães, de 38 anos, não mede forças para lavrar a matéria-prima com o velho machado. Além da força, ele precisa de muita técnica, pois o corte precisa ser bem rente

2 - Depois de cortar os blocos em pequenos pedaços que serão transformados em cinzeiros, copos e outros objetos, o artesão cola a pedra-sabão numa base de ferro. Para isso, usa massa plástica, que demora cerca de 45 minutos para secar





3 - O pedaço de pedra-sabão preso pela massa plástica começa a ganhar forma num torno. São cerca de cinco minutos manuseando a ferramenta. É preciso agilidade e muita técnica para não quebrar a escorregadia matéria-prima

4 - O artesão usa três tipos de lixa para retirar a camada grossa da peça recém-criada. “A de número 50 retira todo o ‘rústico’ da pedra. Em seguida uso a 100, que tira a camada grossa. Por fim, a 400, que dá o acabamento”, conta Guimarães, que, como a maioria, aprendeu o ofício ainda jovem





Fotos: Jackson Romanelli/EM/D.A Press
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Mineiridades - EM vai mostrar o talento artístico de Minas Gerais

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Sábado 20 de setembro de 2008


Das mãos dos mineiros nascem obras que encantam o mundo inteiro. A imaginação do povo das Minas Gerais viaja pelas pedras, pelo barro, pelo cobre, num movimento sem limite de tempo e de espaço. A criatividade de nossa gente brota do nada para criar bens materiais e imateriais. São coisas que seduzem os cinco sentidos e não devem ser apenas lembradas nas páginas dos jornais e dos livros, na tela da TV ou do computador, mas destacadas sempre e imortalizadas na memória. E essa é mais uma proposta do jornal Estado de Minas. A arte de trabalhar a pedra-sabão abre a série. .

Foto: Marcos Michelin/EM - 5/3/2008
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Domingo, dia 21 setembro 2008, o EM começa a publicar, na contracapa do caderno Gerais, a série Mineiridades, com personagens, histórias e imagens selecionadas, algumas das criações e produtos, que, ao lado das belezas naturais e de outras manifestações artísticas, fazem dessas terras uma grande atração turística. Tesouros de cores, formas e sabores singulares, que voam mundo afora e revelam a alma de homens e mulheres, inventam e recriam o que vem do subsolo, das várzeas, do cerrado, dos rios ou da mata atlântica, das montanhas ou dos vales verdes e férteis.



O queijo, patrimônio material; a cachaça, que alcançou fama internacional; a pedra-sabão, há séculos trabalhada por mãos talhadas para a imortalidade; produtos de couro e o artesanato de argila. O EM faz uma busca, pelos recantos do estado, para mostrar ao mundo, mais uma vez, que o coração mineiro não dorme sobre a sua história e nem espera que alguém venha lhe dizer das suas riquezas. Na estréia, domingo, a estrela é a pedra-sabão e como ela é importante para a auto-estima e sobrevivência de uma comunidade.

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